sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Setembro - Mês da Biblia

O lema: “Alegrai-vos comigo, encontrei o que estava perdido” (Lc 15).
O Evangelho segundo Lucas sob o prisma do discipulado-missionário, conforme o
 enfoque do Projeto de Evangelização: O Brasil na missão Continental, é o tema do mês da Bíblia de 2013.
 O tema escolhido releva o Evangelho do Ano Litúrgico C, e os cinco aspectos fundamentais do
 processo do discipulado: o encontro com Jesus Cristo, a conversão, o seguimento, a comunhão fraterna
 e a missão propriamente dita.
O lema indicado pela Comissão Bíblico-Catequética da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB)
 é: “Alegrai-vos comigo, encontrei o que estava perdido” (Lc 15).

Quem é o autor?
Desde o século II a obra foi considerada de Lucas. Muitos comentaristas atribuem à profissão 
de médico (cf. Cl 4,14) e o identificam com o discípulo e colaborador de Paulo (cf. Fm 23ss, 2Tm 4,11).
 Porém, essa relação entre Paulo e Lucas, vem sendo questionada, visto que há muitas diferenças entre
 a Teologia de Paulo e de Lucas.
Baseado na falta de consenso dos estudiosos em determinar quem é o autor do terceiro evangelho,
 deduz-se pelo texto que o autor, provavelmente, é um cristão proveniente do paganismo e de origem grega.
O autor é influenciado pelo estilo dos historiadores (Lc 2,1-2) e dos poetas gregos; utiliza a tradução 
grega da Bíblia e conhece bem o Império Romano.

Quando? Onde foi escrito? Com qual finalidade?
O Evangelho de Lucas provavelmente deve ter sido escrito entre os anos 80 a 90 e não há uma localização 
exata sobre onde foi escrito, mas a proposta apresentada pelos biblistas, seria entre as regiões da Grécia 
ou da Síria.
O evangelista dá prioridade aos cristãos provenientes do paganismo de cultura grega e aos judeus que
 moravam fora da Palestina (na diáspora).
No evangelho percebe-se que o redator final pertencia a uma comunidade mista cultural e
 economicamente e, passa por um período de crise. Portanto, o evangelho se dirige às
 comunidades que já receberam a primeira evangelização.
Diante da catástrofe que foi a guerra judaica (70 E.C.) e os conflitos internos e externos que 
transparecem no texto, provavelmente a finalidade do Evangelho segundo Lucas seria a de
 fortalecer a fé das comunidades e reforçar o seu papel na história da salvação e, assim,
 mantê-las corajosamente no seguimento a Jesus Cristo.

Estrutura do Evangelho Segundo Lucas
Existem várias formas de estruturar o Evangelho Segundo Lucas. A nossa proposta é de subdividi-lo
 em seis partes. A primeira parte é o prólogo, no qual o autor explica os motivos que o levaram a 
escrever o Evangelho, apresenta o método utilizado e o dedica a Teófilo (1,1-4).
Lc 1,5-4,15 corresponde à segunda parte, na qual contém a narração, em paralelo, do nascimento e 
da infância de João Batista e de Jesus. Bem como, a apresentação, pregação e encarceramento de
 João Batista, e os acontecimentos que precedem o ministério público de Jesus (batismo, sua
 genealogia e as tentações – Lc 3,1-4,13).
O autor relata, na terceira parte (Lc 4,14-9,50), o início do Ministério de Jesus na Galileia, marcado
 pela rejeição em Nazaré, as atividades em Cafarnaum e no lago; controvérsias com os fariseus, 
ensinamentos, milagres, parábolas e questões referentes à sua identidade. Essa parte 
conclui-se com a transfiguração.
Na quarta parte, encontra-se o Relato da viagem de Jesus a Jerusalém e a sua pedagogia para com
 seus discípulos e discípulas, apresentando as exigências no seguimento e os pontos fundamentais 
do Reino de Deus (9,51-19,27).
Em Lc 19,28-21,38, quinta parte, o autor narra o ministério de Jesus em Jerusalém com a entrada e 
atividade na área do Templo e o discurso escatológico.
Na sexta parte do Evangelho Segundo Lucas (22,1-24,53) encontram-se os relatos da paixão, morte,
 sepultamento (22,1-23,56a), das aparições do ressuscitado (23,56b-24,35) junto ao túmulo vazio e 
no caminho de Emaús (24,13-35); e finaliza com a ascensão ao céu (24, 36-53).

Linhas fundamentais da Teologia Lucana
Os pontos fundamentais da Teologia Lucana são os seguintes: Teologia da História, a Salvação,
 os títulos de Jesus Cristo, a importância de Jerusalém. Outras colunas fundamentais são: a
 ênfase na oração, o papel das mulheres no seguimento, a contraposição entre pobreza e
 riqueza, como uma das características da ética lucana e a presença forte do Espírito Santo.

Teologia da História
A teologia Lucana é marcada por uma ênfase na história da salvação, que é dividida em três períodos:
 1) o tempo da preparação, ou período da promessa, que seria  a história de Israel (AT), representado pelas personagens Zacarias, Isabel e João Batista;
 2) o tempo do cumprimento da promessa que é o tempo da vida de Jesus; e
 3) o tempo do anúncio, da Igreja, retratado no Livro dos Atos dos Apóstolos.
Uma peculiaridade na concepção histórico-salvífica de Lucas, é sua abertura universal. 
Portanto, a salvação atinge todo o tempo e todas as pessoas, a humanidade
 (cf. Lc 2,30-32; 3,6; 9,52-53; 10,33; 17,16). Com isso, nos aponta para outro ponto
 fundamental que é o tema da Salvação.

Salvação
Não podemos compreender a salvação como um “ir para o céu” após a nossa morte,
 mas a salvação acontece na história. Para a Teologia Lucana, salvação e libertação 
são termos equivalentes. Com isso, podemos dizer que a salvação contempla a totalidade da pessoa, 
em suas múltiplas relações, ou seja, é o restabelecer a justa relação com Deus, com os outros, 
consigo mesmo e com todo o Universo. Nesse sentido, Jesus é o nosso “Salvador” 
(Lc 2,11; cf. At 5,31; 13,23), pois é ele que nos mostra, com a sua encarnação, o sentido
 profundo da humanização das relações.

Jesus Cristo
Jesus Cristo, na Teologia Lucana, é apresentado como compassivo-misericordioso (cf. Lc 7,13; 10,33; 15,20) 
e como um profeta eleito por Deus, para levar a Boa Nova aos pobres (Lc 4,16-30; 7,36-50; 13,32-34). 
Ele também é o lugar por excelência da revelação de Deus (Lc 1,42). 
O título de Senhor está vinculado ao seu ministério público e é apresentado como o Messias enviado por
 Deus, para salvar o seu povo (Lc 1,47; 2,11.30-32).
Jesus, em Lucas, é caracterizado pelo acolhimento dos samaritanos, publicanos
 (Lc 5,27: Levi e Lc 19,2-10: Zaqueu), dos pecadores (Lc 7,36-50; Lc 15,11-32); da viúva (Lc 7,11-17), 
enfim dos marginalizados e excluídos da sociedade.

Cidade de Jerusalém
 Lucas dá à cidade de “Jerusalém” um grande destaque, pois é o único que começa e termina em
 Jerusalém (1,5-23; 24,53). Jesus também participa das festas no templo, em Jerusalém (2,22.42),
 e metade do evangelho narra a sua viagem e estadia nessa cidade (9,50-21,38). Portanto, Jerusalém
 é o ponto de chegada de Jesus para realizar a obra (Lc 17,11; Lc 19,28-38) e o ponto de partida para 
as comunidades que, após a ressurreição, continuarão a sua missão (Lc 24,52).

Oração
 A dimensão orante, em Lucas, está presente em toda a vida de Jesus, sobretudo, nos momentos 
mais importantes (Lc 1,10-11.13; 3,21; 5,16.33; 6,12; 9,18.28; 11,1.2-8; 18,9-14; 22,32.41; 23,46).
O autor não somente nos informa que Jesus reza, mas nos apresenta o conteúdo da sua oração
 (Lc 10,21-24; 22,42; 23,46), frisa o pedido dos discípulos (Lc 11,1) para ensiná-los a rezar e 
enfatiza a eficácia de ser perseverante na oração (Lc 18,1-8; 19,6-8; 21,36).

A ética Lucana
Outro ponto é a contraposição entre pobreza e riqueza, que é um dos aspectos centrais do seu
 programa ético. Diante dessa implicação ética da fé, Lucas reforça a dimensão do despojamento,
 como uma das principais exigências do seguimento a Jesus (Lc 5,11; 6,29-36; 9,58; 12,33-34; 14,33;
 18,22.25; 21,1-4) e sinal concreto de conversão. Consequentemente, sublinha a confiança
 incondicional na providência divina (12,29-30).
Em Lucas o termo “pobre” não é visto somente na perspectiva sócio-econômica, mas
 compreende também os presos, os oprimidos (Lc 4,18), os desolados, os aborrecidos e difamados, 
os perseguidos (Lc 6,20-22) e inclusive os mortos (Lc 7,22).

O Papel das mulheres
As mulheres têm uma presença e uma participação marcante no Evangelho Segundo Lucas. 
Desde o início, Lucas apresenta a estéril Isabel, recordando a história das matriarcas e nos aponta
 para a dimensão teológica, como aquela pessoa que está totalmente disponível ao dom 
de Deus e reforça a intervenção extraordinária do poder de Deus no útero feminino, lugar privilegiado 
da ação divina.
No útero dessa história, surge Maria, aquela que se dispõe a participar da história da salvação. 
É nela que começa a se manifestar o mistério do Deus encarnado.
Ela é o modelo do discípulo/ da discípula, pois acolhe Jesus, está presente no seu ministério (4,16-30),
 participa da sua dor e da sua rejeição durante a sua missão.
Além disso, Lucas apresenta outras mulheres, que seguem Jesus desde a Galileia (Lc 8,1-3), 
estão presentes na sua morte e são as primeiras testemunhas da Ressurreição (Lc 22,27 e 23,50-56).
 Também são narradas várias curas e encontros significativos, nos quais as mulheres são protagonistas. 

Espírito Santo e a Alegria
Lucas é o evangelista que dá maior importância à figura do Espírito Santo e a necessidade
 de uma abertura à sua ação. O Evangelho inicia apresentando a ação do Espírito, 
no nascimento de João Batista (Lc 1,15) e na encarnação de Jesus (1,41). Está presente em momento
s significativos do ministério público de Jesus (3,22; 4,1.14.18; 11,13) e é Ele que revela a presença 
de Deus na história (2,26). 
O último ponto é o tema da alegria. O autor reforça a certeza de que a verdadeira alegria nasce 
do seguimento de Jesus, do agir misericordioso, do desprendimento constante, do se deixar
 guiar pelo Espírito, da experiência profunda de que Jesus Cristo morto e ressuscitado é a
 Boa-Nova para toda a humanidade. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário